Como bom amante de fotografia gosto de ler artigos sobre o tema na Internet, principalmente para aprender como melhorar a composição e trabalhar a criatividade. Uma dica muito comum é tirar um tempo para fotografar usando apenas uma lente prime, isto é, aquelas com distância focal fixa (ou sem zoom). A intenção é fazer com que o fotógrafo saia de sua zona de conforto e pense em novas composições, ângulos ou perspectivas que ele não é acostumado a pensar. Neste post mostrarei o resultado dessa experiência!
Em março deste ano estivemos em Tiradentes para acompanhar o Festival de Fotografia Foto em Pauta, que a cidade recebeu pelo terceiro ano seguido. Passamos o fim de semana entre palestras, exposições e alguns passeios por Tiradentes e a vizinha São João Del Rei, cidades históricas mineiras que nós adoramos. Aproveitei a oportunidade para colocar em prática a ideia de usar apenas uma lente fixa e passei os dois dias fazendo registros usando uma Canon 50mm f/1.8, também conhecida como “nifty fifty” ou “plastic fantastic” por causa de sua construção de plástico, boa nitidez e ótimo preço.
O maior desafio que eu tive que enfrentar em decorrência da falta de zoom foi a distância focal. A lente tem distância focal de 50mm, mas como minha câmera tem um sensor APS-C com fator de crop 1.6 o ângulo de visão equivale ao de uma lente de 80mm. Isto corresponde a um ângulo muito fechado, o que o torna o desafio maior ainda quando colocada em ação em cidades históricas onde na maioria das vezes temos que fotografar construções estando bem próximos a elas.
Uma das estratégias que eu adotei para contornar o ângulo de visão mais fechado foi prestar bastante atenção em detalhes, desde objetos de decoração a anjos dentro das igrejas passando por luminárias acesas nas simpáticas ruas das cidades. Até crianças em poses inusitadas esperando em frente a alguma igreja.
Para fotografar objetos maiores eu me desloquei bastante e também procurei enquadrá-los de uma longa distância antes que a proximidade não permitisse mais fazer a composição. Isto pode também ser interessante em momentos onde não queremos fotografar construções muito de perto para evitar distorções nas linhas da construção.
A próxima foto da Igreja já foi discutida em mais detalhes na série Revelando a Foto (Revelando a Foto – Igreja Nossa Senhora do Carmo).
Um dos maiores benefícios de usar apenas esta lente foi andar mais leve. A nifty fity pesa apenas 120 gramas contra os 635 gramas da lente que eu uso na maior parte do tempo. E este meio quilo faz uma grande diferença para quem gosta de andar muito.
Outro ponto positivo foi a famosa nitidez que esta lente tem. Fiquei muito satisfeito com a nitidez das fotos em geral, mesmo aquelas tiradas com abertura máxima (f/1.8) onde a performance é pior que em aberturas intermediárias (f/8, por exemplo). A foto do anjo já foi tema de um Revelando a Foto (Revelando a Foto – Cemitério da Igreja de São Francisco de Assis).
Outra característica muito interessante que eu explorei no fim de semana usando esta lente é sua grande abertura (máxima de f/1.8). Quanto maior a abertura menor a profundidade de campo (intervalo de distância na foto em que os elementos ficam em foco) e podemos assim dar mais ênfase ao objeto fotografado isolando elementos não importantes na foto. Mas deve-se tomar cuidado porquê com aberturas muito grandes a profundidade é tão pequena que pode ser muito difícil manter o objeto em foco. Se quiser saber mais a respeito, leia nossas dicas sobre profundidade de campo.
Além do desfoque a abertura grande nos permite usar velocidades de disparo mais altas quando temos ambientes com pouca luz. Ao aumentar a abertura nós permitimos que o sensor receba mais luz e por isso podemos usar uma velocidade de disparo mais alta, isto é, deixar o sensor exposto menos tempo. Isto pode ajudar a evitar que uma foto saia tremida em ambientes com pouca luz.
A foto abaixo foi tirada na loja da Imperal Pewter (ambiente fechado) com abertura f/2.2 e velocidade de disparo 1/80s. Se eu usasse uma abertura f/4.5 (2 f-stops mais fechada) a velocidade de disparo teria que ser 4 vezes mais lenta, ou seja, 1/20s. Neste caso o risco de tremer seria muito maior.
Da mesma forma que uma abertura maior permite que usemos uma velocidade de disparo mais alta, uma grande abertura também permite que usemos valores de ISO mais baixos e assim evitar ou diminuir a quantidade de ruído na foto. Isto acontece porque se chega mais luz ao sensor a sensibilidade à luz pode ser menor, ou seja, podemos usar um ISO mais baixo. A foto abaixo foi tirada no interior da Igreja São Francisco de Assis e o ambiente estava muito escuro. Eu usei uma abertura f/1.8 e ISO 800, mas se tivesse usado uma abertura f/3.5 (2 f-stops mais escura) eu teria que usar um ISO 3200, adicionando maior quantidade de ruído.
No final das contas eu gostei muito do desafio. Eu senti a perda da flexibilidade, mas achei muito construtivo o trabalho de procurar por ângulos e composições diferentes, além de olhar mais para alguns detalhes. Certamente eu deixei de tirar fotos que eu poderia tirar se tivesse com uma lente zoom, mas ao mesmo tempo eu trouxe várias fotos que eu não teria tirado se tivesse o conforto do zoom. Quero fazer isso mais vezes, quem sabem em alguma outra cidade histórica? Ou até mesmo sair para fotografar paisagens, por que não?
Para terminar vou deixar algumas fotos também tiradas durante o fim de semana e que eu também gostei.
Se você já fez este exercício, compartilhe com a gente a experiência! Se ainda não teve oportunidade, eu te incentivo a praticar!