O segundo dia do Circuito W (na verdade, o primeiro efetivamente caminhando) era um dos mais esperados por nós pois era o dia em que subiríamos até a base das famosas Torres del Paine que dão nome ao parque. Depois de chegar ao parque na tarde anterior e dormir no Refúgio Torre Central arrumamos nossa mochila e saímos para um dia inteiro de caminhada. São 13 quilômetros no total e a estimativa de tempo era de 7 a 8 horas.
Este dia pode ser dividido em duas partes. A primeira parte é o caminho do Refúgio Torre Central até o Refúgio Chileno (onde pernoitamos) passando ao lado do Cerro Almirante Nieto e a segunda parte consiste em ir até a base das torres ao longo do vale do Rio Ascencio e voltar até o refúgio. O início é muito tranquilo e o caminho é relativamente plano. Passamos pela Hosteria Las Torres e por algumas pontes interessantes (ainda mais para quem adoro pontes e riachos como eu). Caminhamos quase de frente para o Cerro Almirante Nieto que embeleza muito a paisagem.
Em pouco tempo acaba a brincadeira e começa uma longa subida. A trilha segue em direção ao vale do Rio Ascencio, Refúgio Chileno e as torres. Seguimos em um ritmo lento parando algumas vezes para não cansarmos rápido porque ainda tínhamos muito o que caminhar no dia. Em algumas lugares a trilha tem bifurcações se dividindo entre o caminho que deve ser feito pelos caminhantes e em outro por onde devem passar os cavalos que levam mantimentos para o Refúgio Chileno.
As paradas para descanso são um bom momento também para observar a bela paisagem que vamos deixando para trás. Em trekkings como o Circuito W é sempre bom parar para olhar pra trás pois sempre há uma paisagem bonita. A foto abaixo mostra o que fomos deixando para trás com detalhe para o Lago Nordenskjold no meio da foto.
No final da subida tivemos duas recompensas. Uma delas foi o próprio fim da subida e a outra foi a bela vista do vale do Rio Ascencio com montanhas ao fundo. O trecho até o refúgio era praticamente só de descida e mais tranquilo. Fomos apreciando a paisagem e andando em um ritmo um pouco mais rápido considerando os nossos padrões. Nesta parte fomos por alguns minutos acompanhados por uma amostra do forte vento patagônico, o que inspirou cuidado de nossa parte já que a trilha era ao lado de um penhasco.
Neste ponto da trilha já é possível ver o Refúgio Chileno. Na foto abaixo podemos avistá-lo no canto inferior direito.
A chegada ao refúgio já foi para nós uma conquista pois foi o primeiro trecho que completamos. E também foi legal porque não precisaríamos mais carregar as mochilas grandes no resto do dia. Fizemos check in no refúgio, deixamos as mochilas nos lockers e fomos comer o sanduíche que tínhamos no box lunch. Preparamos nossa mochila de ataque apenas com câmera, água e lanche, quanto menos coisa melhor pois a subida até as Torres prometia ser pesada!
Depois do lanche partimos para o segundo trecho do dia, a ida até o mirante na base das torres. Não perdemos tempo e saímos rápido para podermos parar quando a gente se cansasse. No início a caminhada foi muito tranquila pois não tinha subida e a trilha era no meio de um belíssimo bosque de lengas ao lado do Rio Ascencio.
O caminho era muito bonito e ouvir o barulho das águas do rio foi quase uma terapia. Uma das partes mais bonitas foi quando passamos pela ponte que cruza o rio.
E não era apenas o barulho das águas do rio. Na montanha ao lado havia cachoeiras alimentadas pelo degelo da parte alta também encantavam nossos olhos e ouvidos.
Quando chega perto do Acampamento Torres começa a subida até o mirante das torres. É uma das subidas mais fortes que eu já vi na vida. São 800 metros e a previsão é de 45 minutos (imagine só o ganho de altitude). O ritmo é realmente lento e nós começamos a subir com o lema “devagar e sempre” na cabeça. Na foto abaixo dá pra ver uma pedra maior no alto. O mirante é atrás da pedra. 🙂
E se não bastasse o desnível a ser batido a trilha ainda é cheia de pedras. É preciso muito cuidado tanto para evitar uma torção e para não forçar o joelho.
Gastamos quase duas horas (superando muito a estimativa) mas quando chegamos no alto mal podíamos acreditar. Na nossa frente estavam as três belas torres e a seus pés um lago verde também muito bonito. As três torres se chamam Torre Sul (2850 metros), Torre Central (2800 metros) e Torre Norte (2600 metros). Logo que chegamos ao topo avistamos um mirante de onde a vista já era muito bonita. Paramos parar dar um descanso pras pernas e também para tirar algumas fotos.
Em seguida fomos até a beira do lago em uma caminhada simples de uns 5 minutos. Neste ponto as torres e o lago são vistos de um ângulo diferente do mirante anterior, mas a paisagem é tão bela quanto. Por ali ficamos mais um tempo fotografando e babando. Uma boa pedida aqui é deitar em uma das pedras e ficar olhando as torres.
Quando estava na base das torres eu fiquei imaginando estar ali no amanhecer com a luz quente do início da manhã acertando em cheio as torres, como eu já vi em várias fotos. Prometi pra mim mesmo que um dia eu vou voltar para ver o sol nascer. Como nem tudo são flores nós tínhamos que fazer a caminhada de volta ao Refúgio Chileno. E a volta até o Acampamento Torres demandava bastante cuidado por causa da forte descida e das pedras. Eu particularmente sempre acho as descidas mais perigosas que as subidas. É quando eu torço o pé direito com alguma frequência.
Quando acabou a descida, entramos novamente no bosque de lengas e pudemos então fazer uma caminhada mais tranquila e com um ritmo um pouco mais rápido. Este foi um trecho muito tranquilo e como ainda estava longe de anoitecer eu parei algumas vezes para fotografar. Em uma curva da trilha havia uma grande raiz de árvore com muitas pedras em cima. Um guarda parque que passava na hora nos explicou que se tratava de uma árvore da sorte. Coloquei uma pedra ali para nos dar sorte e segui adiante.
Parei também outras vezes para tentar tirar fotos com longa exposição em alguns riachos pelo caminho. Mesmo estando sem meu tripé e um filtro de densidade neutra eu tentei tirar algumas fotos com longa exposição. Apoiando a câmera no joelho e controlando a respiração até que saíram algumas imagens que me agradaram.
É impossível não se encantar com as montanhas, geleiras e lagos de Torres del Paine, mas a abundância desses riachos ao longo do Circuito W também me impressionou de verdade.
O resto da caminhada até o refúgio foi tranquilo, sem subidas, descidas ou pedras. O Refúgio Chileno é menor e tem menos recursos que o Refúgio Torre Central mas também tem uma localização privilegiada ao lado do Rio Ascencio. Todos os mantimentos e recursos que lá chegam são a cavalo.
Nós ficamos em um quarto compartilhado para 8 pessoas e não tinha lockers dentro dos quartos. Eles ficavam em um corredor mas muita gente deixava as mochilas no quarto ao lado da cama. Nesse refúgio não há coberta, apenas sacos de dormir. Porém, durante a noite não sentimos tanto frio. O restaurante é bem menor que o do Torre Central e fica cheio no café da manhã e no jantar, mas não tivemos problema para conseguir lugar.
Como estivemos lá em Dezembro o refúgio estava em clima de Natal! 😀
Nesse primeiro dia (assim como nos outros) nós estouramos muito a estimativa de 7 a 8 hora de caminhada. Nosso ritmo foi muito lento por causa de nossas condições físicas não muito boas e também porque paramos muito para tirar fotos. Mas como os dias são longos no verão patagônico isso não foi um problema. 😉
Este passeio foi realizado com o apoio da Fantástico Sur.
Leia os outros posts da viagem à Patagônia:
- Patagônia – Roteiro
- El Calafate – Tour ao Glaciar Perito Moreno
- El Calafate – Passeio de Barco por Todos Los Glaciares
- Puerto Natales – Um Descanso antes do Circuito W
- Circuito W – A Chegada ao Parque Torres del Paine
- Puerto Natales – Pizzaria Mesita Grande
Leia também as dicas de fotografia na Patagônia: