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Nova Zelândia – Routeburn Track e as Great Walks Neozelandesas

Nós adoramos fazer longas caminhadas e quando compramos as passagens para a Nova Zelândia já decidimos que tentaríamos fazer alguma por lá. O fato de ter muita natureza preservada e vários parques nacionais faz do país uma ótimo lugar para fazer trekking tramping, ou seja, oportunidade não iria faltar. Mas como assim tramping? Pois bem, trata-se de uma palavra local para designar caminhadas (ou trekking).

Paisagem na Routeburn Track próximo ao Harris Saddle - Nova Zelândia

Paisagem na Routeburn Track próximo ao Harris Saddle – Nova Zelândia

Realmente são várias as opções de caminhada e nós optamos por fazer uma das Great Walks, que são um conjunto de 9 trilhas muito bem mantidas e que estão situadas em alguns dos mais espetaculares cenários da Nova Zelândia. Três delas se situam na ilha norte, cinco na ilha sul e uma na Stewart Island. Elas são gerenciadas pelo Departamento de Conservação da Nova Zelândia (DOC) e isso inclui toda a infraestrutura da trilha, desde manutenção de piso até banheiros e abrigos. São elas:

Nós escolhemos a Routeburn Track, que possui uma parte no Mount Aspiring National Park e outra no Fiorland National Park. Nossa primeira opção seria pela Milford Track, mas os abrigos dela são preenchidos rapidamente. Quando pesquisamos não havia mais disponibilidade para o período da nossa viagem. Dizem que os lugares são preenchidos em poucos dias depois de aberta a reserva para temporada. Para a Routeburn nós encontramos vaga nos abrigos até mais ou menos um mês antes das nossas datas pra trilha, então recomendamos que a reserva seja feita assim que as datas estiverem definidas.

Lindo Routeburn River, na trilha que leva seu nome – Nova Zelândia

Para fazer uma great walk é necessário reservar os abrigos e pegar os tickets na unidade do Departamento de Conservação mais próxima da saída, principalmente se a viagem for na alta temporada (se for no inverno não precisa reservar com antecedência). No caso da Routeburn dá pra escolher qual sentido percorrer e em quantos dias fazer (normalmente de 2 a 4 dias), pois é flexível a escolha dos abrigos. Em outras, como a Milford, o percurso só pode ser feito em um sentido. Não há cobrança de entrada nos parques. Nós só tivemos  que pagar para o DOC a diária dos abrigos. O valor da diária varia de acordo com a trilha. No nosso caso, pagamos 54 dólares neozelandeses por dia.

Routeburn Track

O comprimento total da Routeburn Track é de 32 quilômetros e tecnicamente não é uma trilha difícil, já que não tem muito desnível e não demanda esforço tão grande como algumas trilhas da Patagônia ou até mesmo outras da Nova Zelândia. Como podemos ver na foto abaixo, o ponto mais baixo está acima de 500 metros e o mais alto é o Harris Saddle, que fica a 1255 metros de altitude e é o ponto onde saímos de uma parque e entramos no outro. Pela mesma foto pode-se notar também que a diferença de altitude entre os pontos mais baixo e mais alto é bem distribuída ao longo da trilha.

Perfil de altitude da Routeburn Track – Nova Zelândia

Na maior parte do percurso o solo é muito bem mantido com uso de pedras e brita. Ao longo da caminhada temos a oportunidade de ver muitas paisagens bonitas, como florestas de nothofagus, muitas samambaias, rios de água transparente e cor maravilhosa, cachoeiras, vegetação alpina no alto das montanhas, cadeias de montanhas, lagos etc. Em minha opinião é uma das trilhas com melhor “esforço/benefício” que já fiz.

Lagos, florestas e montanhas na maravilhosa Routeburn Track – Nova Zelândia

Rios, florestas e montanhas na maravilhosa Routeburn Track – Nova Zelândia

Nós optamos por começar pelo lado do Mount Aspiring National Park. A caminhada parte de um ponto chamado Routeburn Shelter. Lá tem estrutura de banheiros e várias informações úteis sobre a trilha. Ele fica a cerca de 25 quilômetros da linda cidade de Glenorchy e um pouco mais de 70 quilômetros de Queenstown. Fizemos a trilha em 3 dias, terminando assim no The Divide, que fica na Milford Road, já no Fiorland National Park. Este ponto de chegada fica situado a cerca de 85 quilômetros de Te Anau e 250 quilômetros de Queenstown. Também tem estrutura com banheiros e muitas informações sobre a trilha.

Boa estrutura do Routeburn Shelter, nosso ponto de partida para a Routeburn Track – Nova Zelândia

Para melhor equilíbrio de distâncias e tempos de percurso nós reservamos os abrigos Routeburn Falls Hut para o primeiro dia e o Lake Mackenzie Hut para o segundo dia. Desta forma nós caminhamos cerca de 9 km no primeiro dia, um pouco mais de 11 km no segundo e 12 km no terceiro. Já que tivemos que carregar tudo que iríamos usar na trilha (incluindo saco de dormir, alimentos e equipamento fotográfico) era interessante não deixar períodos muito compridos. E obviamente nós deixamos tempo para fotografar também. Esse tempo nunca é suficiente, mas quanto mais melhor. Há também a opção de passar a noite em outros dois abrigos, o Lake Howden Hut (que fica entre The Divide e o Lake Mackenzie Hut) e o Routeburn Flats Hut, que fica entre o Falls Hut e o Routeburn Shelter, mas nós acabamos que ficando nos outros dois pelos motivos que acabei de citar. Há ainda alguns pontos onde se pode acampar, mas é cobrada uma taxa e assim como no caso dos refúgios na alta temporada é necessário reservar.

Percurso da Routeburn Track indicando trajeto e os abrigos onde dormimos – Nova Zelândia

Quem pretende fazer esta trilha tem que providenciar os translados para o início da trilha e de volta após o fim da trilha. Há empresas que operam desde Queenstown, Glenorchy, Te Anau e Milford Sound. Nós contratamos ida e volta pela Info & Track, empresa com sede em Queenstown e que além dos translados trabalha com aluguel de equipamentos. A volta eles terceirizam de outra empresa e foi tudo tranquilo de acordo com o contratado. Para quem está de carro, há empresas que possuem o serviço de condução do veículo. Você vai com o carro até o ponto de partida e eles se encarregam de te entregar no final da trilha. Nós preferimos devolver antes o carro que tínhamos alugado e contratar ida e volta, já que não valeria a pena pagar pelos três dias de aluguel praticamente sem uso e ainda pagar pela condução do veículo.

Carro da Info & Track que nos levou de Queenstown até o Routeburn Shelter – Nova Zelândia

Para quem vai fazer a Routeburn Track os tickets dos abrigos estão disponíveis nos Visitor Centres do Departamento de Conservação nas cidades de Queenstown e Te Anau. Como nós partimos de Queenstown nós pegamos lá mesmo. No site eles dizem que há funcionários capacitados a tirar dúvidas, mas nós tivemos azar de encontrar uma que não respondia nada com clareza e para várias perguntas a resposta dela era algo do tipo “você quem sabe”. E nem eram perguntas muito complicadas, apenas dúvida como onde poderíamos pegar água para beber, por exemplo.

A melhor época para fazer esta trilha é no período que eles chamam de Great Walk Season. Na temporada em que nós fomos, foi de 28 de Outubro de 2014 a 29 de Abril de 2015. Nesta época, os dias são mais longos e quentes, além de haver fornecimento de água corrente e gás para cozinha nos abrigos. E como eu já falei antes, para esta época é necessária a reserva dos abrigos. Durante o inverno também é possível fazer a trilha, mas eles recomendam apenas para pessoas com melhor condição física e que sejam mais preparadas para condições climáticas piores.

Cozinha de refúgio com gás disponível na alta temporada – Foto: Oscar Risch | Viajoteca

Uma coisa interessante na Nova Zelândia é que não há mamíferos selvagens, anfíbios, serpentes ou aracnídeos, o que faz a trilha ficar mais tranquila e segura. Há a oportunidade de ver várias espécies de pássaros e alguns deles não se incomodam nem um pouco com a nossa presença de tão tranquilos que são. Outra coisa muito importante é estar preparado para as condições climáticas. Como é uma região muito úmida e o tempo pode mudar de uma hora pra outra, é bom estar bem preparado e acompanhar com antecedência a previsão de tempo. O Oscar escreveu no blog Viajoteca um post muito bem explicado sobre clima e previsão do tempo na Nova Zelândia. Para os dias em que fizemos a trilha, a previsão era de tempo aberto nos dois primeiros dias e chuva no terceiro. E foi exatamente o que aconteceu, acho que eu nunca vi uma previsão de tempo para três dias ser tão precisa. A recomendação de se vestir em três camadas faz mais sentido que nunca, já que pode fazer frio e chover, como aconteceu com a gente. E sempre vale a pena levar alguma proteção pra câmera já que a trilha está em uma das regiões mais úmidas da Nova Zelândia. No terceiro dia nós caminhamos praticamente o tempo inteiro com chuva e eu tive que adaptar um saco plástico com buraco para poder fotografar.

Nerd usando técnica avançada para fotografar na chuva no Fiordland National Park – Nova Zelândia

Os gastos envolvidos na trilha não são altos se você fizer sem guia. Basicamente nós pagamos pela acomodação (54 NZD por pessoa por dia), translados de Queenstown para o Routeburn Shelter e do The Divide para Queenstown e alimentação para três dias. Há a possibilidade de fazer a trilha com guia e acomodações privativas mas aí custa muito mais caro.

Os refúgios são confortáveis (é bom lembrar que são abrigos no meio de parques naturais e não hospedagens em cidades :)), são construções de madeira que tem recursos simples para dormir, fazer comida e cuidar das necessidades básicas de higiene. Há beliches nos dormitórios, mas mesmo nos dois refúgios onde ficamos eram diferentes nesse sentido. No Routeburn Falls Hut eram várias acomodações pequenos para 4 pessoas em cada (2 beliches) enquanto no Lake Mackenzie Hut nós dormimos em um quarto grande com quatro beliches para 8 pessoas em cada. Eram 4 pessoas embaixo e 4 em cima um ao lado do outro. Para dormir eles fornecem a cama e um pequeno colchão, então nós tivemos que levar saco de dormir. Vale a pena levar também algo para encostar a cabeça. Não há lockers por lá, todos dormiam com as mochilas perto da cabeça.

Dormitório com beliches para 8 pessoas no Lake Mackenzie Hut – Nova Zelândia

Routeburn Falls Hut, nosso refúgio do primeiro dia na trilha – Nova Zelândia

Routeburn Falls Hut, nosso refúgio do segundo dia na trilha – Nova Zelândia

Como eu já disse antes, nos refúgios há cozinha com fogão e gás, além de água corrente para lavar alimentos e utensílios. Aconselhamos levar fósforo pois eles não disponibilizam e nós tivemos que pegar emprestado. O que algumas pessoas fazem é deixar fósforos usados de propósito para você acender no fogareiro do vizinho e passar para o seu. Há também mesas de madeira (que devem ser compartilhadas) e aquecedor. Tudo simples mas funcional e suficiente para o que precisamos fazer por lá.

Cozinha com fogareiros e mesas de madeira no Routeburn Falls Hut – Foto: Oscar Risch | Viajoteca

Sobre a alimentação, nós tivemos que carregar tudo que vamos comer durante toda a trilha. Não há venda de comida em lugar algum. Como nós fizemos a trilha em 3 dias (saindo cedo no primeiro e chegando no final da tarde no terceiro) nós precisamos levar alimentos para 2 cafés da manhã, 3 almoços e 2 jantares. O Departamento de Conservação recomenda levar comida para um dia extra em caso de problema com o clima e nós assim o fizemos. Para o jantar, nós levamos 3 pacotes de freeze dri food da Back Country Cuisine, comprada em supermercado em Queenstown.Essa refeição vem em um pacote fechado. Para preparar, basta adicionar água fervendo, misturar, lacrar e deixar por 10 minutos e estará pronta para comer. Compramos um pacote que servia duas pessoas e nós levamos 3 deles, um para cada jantar e outro de reserva que acabou virando souvenir de viagem. Para café da manhã e alimentação ao longo do dia nós fizemos sanduíches de queijo e presunto. E ainda levamos estoque suficiente (suficiente pra várias semanas, hehehe) dos chocolates Whittakers, uma delícia de chocolate da Nova Zelândia, e de biscoitos Tim Tam.

Strogonoff de carne da Back Country Cuisine, semelhante aos que levamos para a Routeburn Track – Nova Zelândia

Mas comer não é suficiente, precisamos ter também o que beber na trilha! Pois bem, para as refeições nós levamos refresco em pó, daqueles de dissolver na água. É bom pra não ter que engolir sanduíches a seco. E para suprimento de água nós não precisamos pegar na trilha. No dia em que saímos de Queenstown nós levamos um litro e meio de água para cada um e nos outros dois dias nós enchemos as garrafas antes de sair dos abrigos. Mas tínhamos também comprimidos de Clor-in (pastilhas purificadoras de água) para o caso de ter que pegar água na trilha. Perguntamos para pessoa do Visitor Center do Departamento de Conservação de Queenstown sobre pegar água na trilha e a resposta foi um “você que sabe”. Eu confiaria facilmente na água que desce das montanhas, já que não há fazendas ou cidades na área da trilha, mas se precisasse pegar água eu usaria um dos comprimidos de Clor-in.

Apesar da trilha inteira ter 32 quilômetros, as extremidades são muito interessantes para uma caminhada de um dia apenas.  A partir do Routeburn Shelter dá pra ver bonitas paisagens do Mount Aspiring, desde as montanhas e vales até o maravilhoso Routeburn River.

Lindo Routeburn River, facilmente alcançado em caminhada de um dia a partir do Routeburn Shelter – Nova Zelândia

Já no lado do Fiordland National Park, desde o The Divide, é possível ir até um mirante muito bonito chamado Key Summit (nós não fomos porque chovia no dia e a visibilidade era ruim) ou até mesmo seguir na trilha por uma linda floresta úmida e ver atrações interessantes como o Lake Howden e as Earland Falls.

Linda trilha no meio de floresta úmida no Fiordland National Park – Nova Zelândia

Nerds nas outras Great Walks

A Routeburn foi a única Great Walk que tivemos a oportunidade de fazer por completo mas nós acabamos fazendo pedaços pequenos de outras duas. No Tongariro National Park nós fizemos a Tongariro Alpine Crossing, que é uma caminhada de 1 dia que passa ao lado do Mount Ngauruhoe (famoso Mount Doom do Senhor dos Anéis) e tem alguns trechos em comum com a Tongariro Northern Circuit, uma das Great Walks da ilha norte.

Trecho da Tongariro Northern Circuit, uma das great walks neozelandesas

Quando estávamos visitando o Milford Sound, nós contratamos junto ao Milford Sound Lodge um pacote que além da hospedagem incluía um passeio de barco pelo fiorde e uma caminhada guiada pelo final da Milford Track. Este trecho corresponde as 5 quilômetros e meio entre o Sandfly Point e a Giants Gate Falls e já deu pra sentir um gostinho desta que é a mais concorrida das Great Walks.

Giant’s Gate Falls na Milford Track – Nova Zelândia

Mais informações

Este é apenas um post de introdução e ainda vamos escrever posts detalhados de cada um dos três dias de caminhada e colocaremos os links aqui.

O Oscar Risch fez a trilha conosco e também escreveu posts com muitos detalhes e ótimas fotos da Routeburn Track. Pra quem não sabe, ele escreve agora para o blog Viajoteca e é uma excelente fonte de posts sobre a Nova Zelândia. No outro blog dele, o Mauoscar, também tem vários ótimos posts de lá.

Nós e amigo Oscar Risch na Routeburn Track – Nova Zelândia

Nós e amigo Oscar Risch na Routeburn Track – Nova Zelândia

Referências

Agradecemos a Info & Track pelo apoio nos translados.

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